quarta-feira, 27 de junho de 2012

Poesia






CANÇÃO DO FUNDO DO POÇO



Não o tinha visto tão de perto
Quanto naquela manhã triste
Com coração aflito me viste
Como eu fosse água no deserto!

E se achegou a mim devagar
E desfrutou do meu remanso
Calou-se e pôs-se a divagar,
Tão perto e longe do meu alcance;



E eu te contava meus rumores,
Ao mirar teus olhos no fundo,
Eu confessava meus amores
E teu olhar confessava junto;

Mas vez em quando tu fugias,
Olhava firme em teu reflexo,
Pagava pedra e se feria
Retirando-as do teu regaço!




Mas num esforço vão e estranho
Somente a mim que tu atingias!
Minhas lágrimas revolviam-se
Num gesto amargo, por teu espanto;

No entanto tu voltavas rindo,
E se assentava sobre o muro,
E dizia coisas sem ouvir
O meu chamado lá do fundo...




Do poço d'onde eu te gritava
E me lançava nas paredes
Eu via um sinal que me animava:
Ao meu redor o musgo verde!


Tu me vias lá embaixo e calava,
Não dizia mais do que um olhar,
No entanto tu me visitavas,
Não se permitindo escapar;




Mas meu sorriso esvaiu-se,
Assim que abandonaste o muro,
E para bem longe partiste,
Sem nunca beber do meu poço!

E nem disseste: “Adeus, querida!”
Como se eu fosse uma cisterna
Impura!E Foi matar a sede
Numa outra fonte mais segura...

No entanto tu sempre retornas
Fugaz, a me acalmar as mágoas
E desfaz com tua graça eterna
Dores que do poço deságuam

Minh’água refrescante e límpida
Reflete agora outros olhares
Mas mantêm em sua forma vívida
Lembranças ternas de tua imagem


segunda-feira, 25 de junho de 2012

Ser professor - Parte II


“Os verdadeiros analfabetos são aqueles que aprenderam a ler e não leem.”   Mario Quintana



Posso parecer meio nostálgica associando uma ideia que valia para o ensino médio a realidade universitária. Mas para mim professor é professor! Tanto faz quem seja o aluno alvo. O professor representa a fonte de conhecimento, e ainda que de fato a internet tenha aproximado o conhecimento de qualquer um, e o professor não seja mais o detentor dele (um motivo a mais para não haver arrogância), ainda assim, resta algo que não sei o que é, mas sei que foi deixado em mim pelos perfeitos exemplares da profissão que conheci.

A equação é simples, se dá certo por que não mais?

Na verdade dava certo, nem mesmo os métodos passados funcionam. Como afirma também o educador Gabriel Chalita, a sala de aula tradicional, com um professor falante e alunos ouvintes, está fadada ao fracasso. Segundo ele a comunicação é essencial, a escola – seja ela qual for: básica, técnica, universitária – precisa de professores confiáveis.

De fato as escolas públicas de ensino médio, algumas delas ao menos, estão bem dinâmicas, as de ensino técnico então, sou suspeita para dizer. Onde estão localizadas as relações fadadas ao fracasso citadas pelo autor? Lá mesmo. Implicância minha? Pode ser.

É importante lembrar que Gabriel Chalita é um professor universitário, o que já constitui uma exceção. Longe de generalizar, estou apenas contextualizando uma apatia brutal do sistema de graduação. Será que o fim das universidades será mesmo o computador? O ensino a distância? Os prédios serão apenas caixas registradoras, ou nem isso, já que transações bancárias já são realizadas pela internet.  

Estamos todos muito ocupados com a correria do cotidiano, com o ganha-pão, quanto mais prático o modo de se conseguir um diploma tanto melhor! Quem não estiver querendo apenas o diploma que corra atrás do prejuízo caçando agulha no palheiro, fechando parcerias com aqueles que querem compartilhar algo mais que teorias.

Só há um porém: esses futuros profissionais que burlam o sistema e ganham suas notas, uma meta tacanha que constitui o fim sem atentar para os meios, estão de certo modo comprando um status sem mérito algum. Ainda que não burlem, e decorem muito bem suas respostas para ser bem avaliados, isso não é aprendizado.

Um desses professores exceção, disse ser a favor da “cola” nas provas, pois enquanto fazem a cola estão estudando... Ingênuo! Hoje é mais fácil pegar cola de quem sabe, a fazer sua própria. Desse erro eu preciso me redimir. As instituições de ensino já estão de tal modo insípidas, não posso partilhar dessa acomodação que envolve os alunos, oferecendo o meu esforço. Não mais!

Dá para fazer a diferença, achar a cabeça do bacalhau, descalcificar o espírito de professores repetidores de teorias (expressão minha contemplada por outro professor exceção). Dá para fazer poesia ainda, no papel, já que computador não sabe contar a métrica dos versos!

Enquanto eu tiver amigos professores que me deem apelidos como “garota aspas” ou garota reticências (sinal que sempre espero algo mais...), enquanto esses maravilhosos amigos estiverem de acordo com aquele ideal que eu conheci lá no meu primeiro livro lido, ou que sejam mágicos como tantos outros personagens que vieram após Clarissa, como Mr. Keating no filme Sociedade dos Poetas Mortos e tantos outros ainda não citados, que representam na ficção fatos que sim, existem na realidade, enquanto eles existirem há esperança!

E eu quero fazer parte dela!

Post Scriptum: Importante avisar que a menção ao nome de Gabriel Chalita não tem nenhuma conotação política.  

Ser professor






O primeiro livro que li na vida foi um romance de Érico Veríssimo chamado Música ao Longe e a história era narrada por Clarissa, uma professora do curso elementar, ou pré-primário; foi meu primeiro referencial de professora. Logo o conceito saiu dos livros para a vida real, e embora parte do romantismo tenha permanecido neles, outros professores e professoras surgiram.
Cursei o fundamental e o médio em contato com personas especiais, alguns fascinantes! Tive ainda a sorte de cursar um técnico com o melhor time de mestres possível e imaginável. De onde prematuramente deduzi que era daí para melhor, que quanto maior o grau de ensino, melhor a qualidade dos queridos professores. Será?
Aprendi que a interpretação dos fatos por um único ponto de vista gera falácia ou injustiça. A soma das partes não corresponde ao efeito do todo em conjunto, já diria o conceito de sinergia. Mesmo assim, pelo que vejo e ouço, não dá para permanecer totalmente indiferente.
O grau aumenta, mas as circunstâncias embotam-se, tanto faz o local onde atuam os professores do topo da hierarquia, tanto eles próprios estão meio mumificados em suas consciências, quanto a paisagem tornou-se concreta. No ano de 1977, Mario Quintana, poeta apresentado a mim por uma dessas professoras fascinantes que ainda existiam até aqui, escreveu em seu livro A Vaca e o Hipogrifo, o seguinte Poema:   

Oh! Aquele menininho que dizia

“Fessora, eu posso ir lá fora?”
Mas apenas ficava um momento
Bebendo o vento azul...
Agora não preciso pedir licença a ninguém.
Mesmo porque não existe paisagem lá fora:
Somente cimento.
O vento não mais me fareja a face como um cão amigo...
Mas o azul irreversível persiste em meus olhos.

Tudo cimento. Prédios monstruosos arranha-céus, bem diferente do monstro com vinte janelas e uma boca que cuspia crianças na hora da saída, descritos pela professora Clarissa no romance. E não porque apenas não sou mais criança, nem os universitários o podem ser, mas a arquitetura mudou. Tudo mudou, e se fosse só essa a mudança tanto fazia...
As relações são mais frias. Como no poema de Quintana não é necessário pedir licença – um sinal notório de educação – para sair da sala, posso inclusive não só beber o ar lá fora, como ir embora e deixar o professor a ver navios como se ele fosse uma coisa qualquer. Muitos dizem: o importante é pagar a mensalidade. Os bolsistas dizem: Pago os impostos! O mesmo é dito por universitários de instituições federais.
Gabriel Chalita, renomado educador, descreve três características fundamentais aos professores: competência, coragem e amor. Mas aqui me interessa sua definição de competência, presente no livro Pedagogia da Amizade:

“Não é possível ensinar sem aprender. O mestre é aquele que aprende o tempo todo, que estuda, que busca ampliar o repertório em respeito à confiança que o aluno deposita nele. A competência deve levar em consideração o conteúdo e a forma. Há que se perguntar àquele que se propões a ensinar o que é de fato essencial para que o aluno siga a sua jornada. (...) Competência não deve ser sinônimo de prepotência e arrogância. Ao contrário. O professor competente tem a simplicidade de buscar o que há de melhor para partilhar com os alunos. Sabe que não basta ensinar somente o conteúdo da disciplina. Sabe que é preciso ter um olhar ampliado. Dialogal. (...) A interdisciplinaridade ou transdisciplinaridade precisa sair do gabinete de teóricos e chegar à sala de aula. (...)”  

Aprender o tempo todo, não ser prepotente ou arrogante e dialogar. Eis o mistério, o segredo que tão poucos apreendem; uma porção reduzida a têm por completo, outros têm em parte, outros sequer sabem do que se trata, contando que recebam o salário percentual das mensalidades ao final do mês!
Claro que nos lugares mais inóspitos sempre é possível encontrar uma fonte, um manancial... Algo que represente de longe um conforto. A estes os acomodados estranham e dão apelidos, por que fogem do comum, são encantadores num ambiente onde o encanto é a extrema exceção e não a regra geral. Tão bom quando em meio ao concreto aparece alguém e diz: “suave?”
Não, suavidade é o que não há. Por quê? Eis a questão! Acaso esses mestres não foram crianças, e não tiveram professores? Acaso estes significaram tão pouco assim? Não na geração em que foram formados. Atualmente é escandalosamente natural ver alunos revoltosos contra professores, se sentindo cheios de razão. Não na época em que meus professores de todos os tempos se formaram.
Ser professor é uma benção, seja de crianças, adolescentes, jovens ou adultos. Ser professor não é só repetir teorias, forçar alunos a decorá-las, dar uma nota e pronto! Está acabado. Não! Se os alunos são crianças o preparo é um, adolescentes outro, jovens idem, adultos também.
Certa vez ouvi dizer que as escolas a distância são o futuro. Talvez sim. Lamentavelmente o ser humano cria as coisas para sua própria danação! Pela completa incapacidade de manter firmes e saudáveis os contatos sociais, o destino das escolas será um simples computador... Se pessoalmente não podemos tirar dúvidas de uma forma completa como com o Google, danem-se os professores! Que eles sirvam apenas para aplicar minha avaliação e nada mais, até que inventem um robô que o faça. (Continua)





quarta-feira, 6 de junho de 2012

A Paz






Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
 João 14:27

– Me deixe em paz!

Quantas vezes num reflexo de ira, de irritabilidade, não declaramos frases como esta? Paz; queremos paz, tranquilidade, distância de tudo que nos incomoda e tudo que atrapalha nossos planos, nossos sonhos. Tudo que é nosso.
Sombra e água fresca é o que queremos. Um trabalho sem maiores dores de cabeça. Um relacionamento feliz, que proporciona alegria ao nosso ego, e para isso independe do como nos relacionamos.
Sossego é a definição de paz num dos dicionários on-line. Essa é a paz do mundo que Cristo anunciou e que não era a paz que ele oferecia. Qual era ela então?

Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo. 
João 16:33

Ter paz e aflições. Como pode ser isto? A paz, tal como a entendemos, não convive com a desarmonia, e aflição é sinal de que algo está contra nós, contra os planos traçados. Estará o evangelista João errado na sua interpretação declarativa do enunciado de Cristo?

Na epístola de Paulo aos santos de Colossos encontramos:

Porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse,
E que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra, como as que estão nos céus.
A vós também, que noutro tempo éreis estranhos, e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo vos reconciliou
No corpo da sua carne, pela morte, para perante ele vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis, 
Colossenses 1:19-22


Por meio do sacrifício de Cristo na cruz, fizemos as pazes com Ele, não só nós como todas as coisas nos céus e na terra. Reconciliação é a paz que Cristo oferece, e não sossego. Antes do Calvário éramos inimigos de Deus, pelo pecado herdado, que corrompia a raça humana.
Na cruz o Senhor levou os nossos pecados, e rendeu o seu espírito. O mundo ficou em trevas, era uma imagem que ninguém podia conceber, imaginem uma única pessoa pagando os pecados do mundo inteiro? No entanto uma vez ressuscitado, Cristo (Deus filho) ergueu seu dedo mínimo à Jeová (Deus Pai) e pediu paz para com todos aqueles que crescem nesta palavra dali em diante.
Portanto, muito se engana quem crê que por estar feliz aqui, tem a aprovação de Deus para suas obras. Não que devamos ser infelizes, mas os momentos de felicidade desta vida não são nada comparados ao que nos aguarda. E desagradar a Deus por míseros prazeres não compensa.
Nós que cremos, sentimos que não somos daqui – pare o mundo que eu quero subir! – e nada do que fazem parece ter sentido além do exterior. Se não é assim com você há algo errado...

Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
Se vós fósseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.
Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. 
João 15:18-19

Graça e paz  (ou paz de graça) para todos! Basta crer.


Fala Pedro!




Lemos esta passagem (com estas palavras) no Evangelho Segundo Mateus, e somente nele:


E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus.
Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;
E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus. 
Mateus 16:16-19

Pedro, quem é a Pedra?