terça-feira, 9 de maio de 2017

Depois de Você



Eu não tinha lido o livro “Como eu e era antes de você” de Jojo Moyes quando fui ao cinema assistir ao filme. Não li, pois seu lançamento foi muito modinha, em cada canto que eu ia tinha alguém (ou mais de um alguém) com um exemplar em mãos, e tudo que causa comoção geral me deixa desconfiada. 


Guardei minha curiosidade para o lançamento do filme, sem ler nenhuma resenha sobre o livro, nem deixar nenhum dos meus conhecidos que leram e acharam “lindo” me contar o final. Pelo menos me poupei da revolta clássica de achar que o filme ficou devendo ao livro. Mas não saí menos revoltada da sala do cinema. Isso foi ano passado, e não escrevi antes, pois simplesmente achei uma história muito desprezível para merecer destaque. Fiquei e continuo me perguntando o que essa trama e principalmente seu desfecho tem de lindo?

Está bem! Sem ser radical, a trilha sonora do filme é razoável, até hoje quando ouço “Unsteady” de X-Ambassadors, lembro de Louisa Clark e do babaca Will Traynor. O mesmo vale para as músicas “Surprise Yourself” de Jack Garratt; “Numb” de Max Jury, “Photograph” de Ed Sheeran, entre outras. A fotografia, os cenários e o elenco também foram bem bacanas, e digo isso sem nenhuma influência dos trabalhos passados dos protagonistas, pois não assisti Emilia Clarke em Game of Thrones nem Sam Claflin em Jogos Vorazes.

Talvez se eu tivesse saído do cinema antes do fim, e nunca tivesse buscado saber qual foi o fatídico final, eu também o achasse lindo. Mas como bem disse o ator e dublador J. Grant Albrecht o enredo é "uma forma de romantizar a covardia". Isto dito por um cadeirante devido doença que atingiu sua medula. Não é só uma questão de preferir o final clássico hollywoodiano do viveram felizes para sempre, como a autora disse em entrevista, mas é uma questão básica de que a vida não é tão rasa para que uma decisão suicida possa solucionar. O homem não é Deus.

Apesar do desconforto com o filme, resolvi dar uma chance a Jojo Moyos de tentar salvar seu enredo, sei lá, busquei uma justificativa, algo que lhe desse algum sentido ao desfecho de sua obra anterior. Então resolvi ler a sequência do livro: "Depois de Você". Não só para saber o que aconteceu com a jovem Lou Clark depois da morte de Will, mas particularmente, tentar entender o que aconteceu com autora após Will Traynor.

Para quem não leu nem assistiu o primeiro filme Will Traynor, é um bonitão de família rica, atlético que sofre um acidente de motocicleta, fica tetraplégico e perde a vontade de viver. Então apesar de todo um romance intenso com Louisa Clark, ele decide pelo suicídio assistido (eutanásia) numa clínica chamada Dignitas na Suiça.

Em Depois de você, a história se esvazia mais ainda quando a autora nos lembra que o encontro entre Lou e Will durou apenas seis meses. Considerando todo o tempo que ele mal olhava na cara dela, até ela o conquistar, o romance mesmo não deve ter passado de três meses. E Will já estava tetraplégico há algum tempo quando Lou chegou a sua vida. Sua decisão já estava tomada.

Na nova trama, Lou continua com seu estigma de fracassada, apesar da boa condição em que Will a deixou, com um teto e matrícula na faculdade, esta última Lou não aproveitou. Não se tratava de recursos financeiros, mas de perspectiva de futuro. A autora tenta induzir a ideia de que a mídia e a vizinhança de Stortfold culpava Louisa por ter participado da morte de Will, e tenta reproduzir o peso dessa culpa na personagem, justificando assim sua paralisia emocional. A jovem não falava mais com a família, e morava sozinha no apartamento herdado de Will e trabalhava num bar de aeroporto. Homens em sua vida tinham finalidade sexual. Aqui comecei a sacar Moyos, mas explico mais a frente.

Numa certa noite, bêbada no telhado do seu apartamento, Louisa cai do quinto andar e sobrevive, e na ocasião conhece o paramédico Sam. Depois começou a participar de um grupo de apoio chamado “Seguindo em Frente” para pessoas que precisavam se recuperar da morte de um ente querido, onde conheceu Jacke, sobrinho de Sam. O grupo era algo tipo alcoólicos anônimos, realizado num salão de uma denominação pentecostal. Não, as reuniões não tinha nenhuma conotação cristã, do início ao fim de todas elas Deus e o Senhor Jesus estava fora de todas as abordagens. Comecei a entender mais ainda Sra. Moyos.

Depois aparece Lily, a filha bastarda de Will Traynor, que nem mesmo ele sabia que existia, filha de uma ex-namorada dos tempos de faculdade, como todas as outras (inclusive a própria Lou) jogadas para escanteio por causa do egoísmo de Will. Rejeitada pela mãe, que trocava de marido como quem troca de roupa, a jovem bêbada e drogada vem parar na porta de Louisa Clark querendo saber notícias de como era o falecido pai.

E aí seguem algumas cenas patéticas, com a junção de duas bêbadas num mesmo cenário, uma com mais idade que a outra, mas tão vazias quanto. Por mais natural que a autora tenha feito parecer ser compartilhar um baseado, achei muito desnecessário. Louisa apresenta a menina para os pais de Will, mas o Sr. Traynor já estava com outra esposa grávida já por dar a luz, e a Sra. Traynor havia se isolado numa casa muito mais modesta que o castelo em alguma cidadezinha e vivia sob efeito de remédios.

A menina revoltada por não ter espaço para ela na vida de ninguém passa por aquelas situações constrangedora que adolescentes rebeldes passam: Sexo, drogas, e hipsters, sim até Rock In Roll está em baixa pela propaganda hipster do livro. Lou Clark divide sua própria história de bebida e estupro, como se fosse um ritual natural para toda adolescente.

No meio tempo, Sam o paramédico, começa a se envolver com Louisa, e ele era o apaixonado da história, vivendo sobre o fantasma do finado Traynor. Era como se a passagem de Will pela sua vida fosse motivo para ela nunca mais se entregar de verdade para ninguém. Mas entrega para autora é apenas sentimental, sensorial podia, tanto que em dado momento o próprio Sam reclamou de ser um objeto sexual de Lou, e que ela simplesmente se recusava a deixar Will partir. No final das contas, por mais especial e atraente que o personagem de Sam tenha se mostrado, Louisa resolve manter o relacionamento à distância para não perder uma oportunidade de emprego em Nova York, apoiada por todos. Lou a mulher 'independente'.

Uma das reflexões de Josy, a mãe de Lou, é uma nota digna de destaque. Em crise na relação com o marido porque se via as voltas com o movimento feminista, por influência de sua outra filha Treena, Josy estava deixando todas as suas antigas atividades domésticas por fazer, e desabafou:“Sempre estive satisfeita. Mas é como se eu tivesse passado trinta anos fazendo determinada coisa e agora tudo que leio, a televisão, os jornais, é como se todo mundo estivesse me dizendo que nada valeu a pena”.

Bingo! Todas as mensagens dos dois enredos da autora chegam à conclusão que nada vale a pena. Viver não vale a pena, manter um casamento não vale a pena, relacionamentos estáveis e seguros não valem a pena. Eutanásia, Feminismo, são formas de negar a existência de um Deus que é maior que tudo, e que é o único soberano sobre nossas vidas, que deu o lugar certo para tudo na criação, e achar que podemos fazer melhor que o plano Divino é apostasia! Só um criador justo e generoso é capaz de nos livrar dessas misérias humanas que somos, seja tetraplégicos, bêbados, drogados, blogueiras ou autoras de livros. E o pior é que essas mensagens lidas e assistidas viram best-sellers e arrancam lágrimas e comentários do tipo “ai que lindo”.

Numa passagem do livro, quando Louisa reencontra Lily que estava desaparecida a personagem narra “só consegui agradecer a algum Deus desconhecido e oferecer essas palavras: Will. Will... nós a encontramos.” Quem além de alguém sem fé, cita um deus desconhecido e oferece suas próprias obras se referindo a um morto? Final feliz é coisa de mulherzinha, superação é descanso espiritual está fora de moda, afinal dar cabo da própria vida é uma decisão que precisa ser respeitada sem julgamento (...?). Um final feliz é uma menina ousada pajeada pela família alienada e um homem completamente sem forças, desenhado apenas pela masculinidade física, que apenas servia Louisa Clark na cama, mesa e banho, mas não era um laço que a prendia em lugar algum.

Há notícias de um terceiro livro contando mais lenga lenga de Louisa Clark. Apesar de muito boa romancista, no sentido de saber conduzir a trama de uma forma que lemos até o último ponto na expectativa de vermos o fim que queremos, Jojo Moyos é apenas um instrumento do mundo, na perpetuação de ideias contrárias a Deus, não sei se consciente ou inconsciente. Vou continuar a ser como eu era antes de você (Moyos): conhecedora do Deus desconhecido, único, que pode libertar todos os doentes das suas prisões na carne (o corpo) e confortar os corações das mulheres em seus incríveis privilégios femininos sejam elas solteiras ou casadas; e descansada na certeza de que muitas coisas melhores foram destinadas para todo aquele que aceitar a bendita graça do evangelho.



2 comentários:

  1. Análise totalmente egoísta
    No dia que você não poder levantar sua bunda pra ir no cinema reclamar ou não poder usar seus dedos pra falar merda na Internet porque está paralisada do pescoço pra baixo vamos ver se você acha que o Will foi egoísta
    Cada um sabe o que pode suporta, aquela vida era terrível pra ele, então ele escolheu se libertar de toda a dor que sentia
    Além é claro de você ser a típica cult que se acha diferentona: "aí não assisto modinha" "Ain o filme devia se aprofundar mais na situação socioeconômica da Arábia" e etc

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    1. Olá, eu não disse que Will foi egoísta exclusivamente pelo suicídio, o personagem era assim desde vivo. A sua opção por morrer não o redime das características que a própria autora o atribuiu.

      Sobre a eutanásia repito: a vida não é tão rasa para que uma decisão suicida possa solucionar. O homem não é Deus.

      Certamente só quem passa por isso sabe o que ocorre, por isso inclui a citação de um cadeirante,J. Grant Albrecht, ao post. Embora seja uma questão de fé, e isto não pretendo que ninguém concorde à força comigo.

      Obrigada pela sua contribuição ao post. Eu assiti ao filme modinha antes de escrever ao post, e não me interessa nem um pouco a situação socioeconômica da Arabia!

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